Paula acordou com chuva na janela, escorrendo como lágrima de santinha na igreja do bairro... gota mais gota, mais gota... "É o chororô dos anjinhos, quando Deus diz que um deles vai descer para a Terra.", disse mamãe.
Paula ficou um tempinho parada, olhando para aquelas gotinhas, quase uma a uma, descendo pelo vidro e falou para a mãe: "Vamos brincar de cientista?"; "Como assim, Paula?; "Eu dou uma explicação para a chuva e depois você dá outra."; "Menina, eu não vou saber brincar disso!"; e Paula balançou a cabeça afirmativamente: "Vai saber sim... a senhora sabe tudo!" A mãe franziu a boca, significando: quem dera... quem dera.
A mãe sentou perto de Paula na sala, de frente para a janela; a menina começou: "A senhora já disse que são os anjinhos chorando; eu acho que Deus tem uma máquina que joga pingos, muitos, milhões... para molhar as plantas, as flores, os passarinhos... tudo isso!"; "Mas, Paulinha, a chuva também molha as pessoas nas ruas!"; "Ah, mãe, elas abrem o guarda-chuva, usam capas... ficam em casa!"; "Mas, Paulinha, e as pessoas que não têm casa? Que não têm guarda-chuva ou capa, como fazem?"
Paula parou de falar, levantou e foi até a janela, colocou a mão no vidro, seguiu com o dedo uma gota... pensou, pensou... a pequena mão seguiu mais uma gota; Paula se virou e disse: "Se uma pessoa não tem casa, guarda-chuva e capa... ela não pode sair na rua! Tem que ficar..."; a mãe emendou: "Em casa? Paulinha, e se ela não tem casa? Vai ficar onde?"
A menina pensou, pensou... de um pulo no colo da mãe e disse: "Eu não sei! Mas a gente pode deixar essas pessoas morarem com a gente... ou dar guarda-chuva para elas, capas... né mãe?"; "Minha filha, são muitas pessoas! Muitas mesmo!"; "Então, mãe. Os anjinhos não estão chorando porque os outros anjinhos estão vindo para a Terra; eles estão chorando porque essas pessoas não tem casa, guarda-chuva e capa! É por isso, não é?"
A mãe riu, abraçou a menina e disse: "Isso, Paulinha, deve ser por isso mesmo!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário