Luiza chegou a sala de aula
atrasada; cumprimentou a todos e sentou na mesma carteira de todos os dias. No
quadro, Luiza podia ver algumas palavras; entendia algumas e tentava “descobrir”
outras, usando das aulas passadas e de um pouco de adivinhação... C A S A; F A
M Í L I A; T R A . . . “Essa eu não sei!”, pensou.
O professor, como de costume,
passou de mesa em mesa, falou com cada estudante, elogiou os mais rápidos e incentivou
quem demorava um pouco-mais para escrever: “Isso, “f” de faca! “A” de alô!...”
Luiza já tinha aberto o caderno, pego o lápis e começado a escrever; esperava o momento em que o professor chegaria junto da sua mesa, por
isso escrevia letra-por-letra, o mais rápido que podia, para receber um elogio.
Entretanto, por mais que se esforçasse, tentasse escrever mais ligeiro, não
conseguia “colocar naquela folha do caderno todas aquelas palavras!”; o professor,
aos poucos, se aproximava de sua mesa; Luiza começou a ficar nervosa e as
letras começaram a embaralhar, e quando o professor colocou a mão sobre o ombro
dela, somente as duas primeiras palavras estavam escritas.
Luiza não levantou a cabeça para
olhar o professor, pois sentia raiva de não ter conseguido – queria tanto...
tanto ser elogiada! -, sentiu vontade de parar por ali e não fazer mais nada.
O professor olhou o caderno;
Luiza começou a explicar (Professor, eu não consigo entender todas as
palavras... não estudo há tantos anos...) - aquela mulher de 52 anos sentiu um
grande incômodo, provocado pela frustração -, mas foi interrompida pelo
professor: “Luiza, cada um aqui tem um tempo, um ritmo, entende? Eu só quero
que você faça o seu melhor... rápido ou devagar, o que importa é fazer a tarefa e
participar, compreende?”; “Sim, professor!”, e quando o professor começou a ir
para a próxima mesa, Luiza o tocou e disse: “É mais ou menos como uma mulher fazendo comida
para o marido; não importa se demora ou não, o que importa é fazer uma comida
limpa, gostosa e com amor... não é isso, professor?”; ele sorri, abraça Luiza e
diz: “Exatamente isso! Exatamente...”
Luiza também sorri e volta a escrever, afinal "Exatamente com um sorriso é bom! Eu sei que é um elogio!".
Adorei!!
ResponderExcluirVou trabalhar com meus alunos de EJA!!!
Grata por compartilhar!!
Carinho, Socorro Calhau