sábado, 21 de setembro de 2013

LETRA POR LETRA...

Luiza chegou a sala de aula atrasada; cumprimentou a todos e sentou na mesma carteira de todos os dias. No quadro, Luiza podia ver algumas palavras; entendia algumas e tentava “descobrir” outras, usando das aulas passadas e de um pouco de adivinhação... C A S A; F A M Í L I A; T R A . . . “Essa eu não sei!”, pensou.

O professor, como de costume, passou de mesa em mesa, falou com cada estudante, elogiou os mais rápidos e incentivou quem demorava um pouco-mais para escrever: “Isso, “f” de faca! “A” de alô!...”

Luiza já tinha aberto o caderno, pego o lápis e começado a escrever; esperava o momento em que o professor chegaria junto da sua mesa, por isso escrevia letra-por-letra, o mais rápido que podia, para receber um elogio. Entretanto, por mais que se esforçasse, tentasse escrever mais ligeiro, não conseguia “colocar naquela folha do caderno todas aquelas palavras!”; o professor, aos poucos, se aproximava de sua mesa; Luiza começou a ficar nervosa e as letras começaram a embaralhar, e quando o professor colocou a mão sobre o ombro dela, somente as duas primeiras palavras estavam escritas.

Luiza não levantou a cabeça para olhar o professor, pois sentia raiva de não ter conseguido – queria tanto... tanto ser elogiada! -, sentiu vontade de parar por ali e não fazer mais nada.

O professor olhou o caderno; Luiza começou a explicar (Professor, eu não consigo entender todas as palavras... não estudo há tantos anos...) - aquela mulher de 52 anos sentiu um grande incômodo, provocado pela frustração -, mas foi interrompida pelo professor: “Luiza, cada um aqui tem um tempo, um ritmo, entende? Eu só quero que você faça o seu melhor... rápido ou devagar, o que importa é fazer a tarefa e participar, compreende?”; “Sim, professor!”, e quando o professor começou a ir para a próxima mesa, Luiza o tocou e disse: “É mais ou menos como uma mulher fazendo comida para o marido; não importa se demora ou não, o que importa é fazer uma comida limpa, gostosa e com amor... não é isso, professor?”; ele sorri, abraça Luiza e diz: “Exatamente isso! Exatamente...”

Luiza também sorri e volta a escrever, afinal "Exatamente com um sorriso é bom! Eu sei que é um elogio!".

Um comentário:

  1. Adorei!!
    Vou trabalhar com meus alunos de EJA!!!
    Grata por compartilhar!!
    Carinho, Socorro Calhau

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