Zezé olhava para aquele quadro antigo na parede rosa da sala. Tinha
dúvidas se era uma pintura ou uma foto – deveria ser uma pintura, pois desde
criança via aquele quadro no mesmo lugar, e já contava com duas décadas-e-pouco
de vida. O quadro retratava uma pequena casa, na margem de um rio, a noite, com
uma lua linda... era uma imagem escura, bonita, misteriosa...
Em alguns momentos, enquanto assistia à televisão, Zezé perdia a noção
de tempo e espaço e passava alguns minutos levantando hipóteses e perguntas
sobre aquela pequena casa, a mata em torno e aquela “sempre” noite: Quem
moraria ali? Teria alguma cidade próxima, ou era uma casa isolada? Era uma casa
de fazenda? E, sem perceber, respondia a tudo: Não! Era uma casa de beira de
estrada, no mato, com moradores sem filhos e que viviam de pequenas culturas e
pesca, afinal aquele rio não era poluído...
De repente um barulho forte de objeto caindo trouxe Zezé de volta à
sala – o quando antigo, escuro, misterioso e pesado tinha despencado e agora
estava no chão, atrás da televisão, com um dos cantos da moldura (dourada)
quebrado; Zezé riu, por causa do susto e imaginou aquela água do rio correndo
pelo chão da sala, molhando os tacos, entrando pelos quartos e cozinha... riu
mais alto e nervoso, afinal seria um desespero escoar toda a água, terra,
plantas aquáticas e peixes de um rio-tão-antigo de dentro de casa...
Levantou, pegou o quadro, pesado, e o colocou apoiado na televisão e na
parede; ajeitou o canto quebrado, e voltou a sorrir, pensando: Ainda bem que a
água não correu pela casa! Desligou a televisão e foi para a cozinha... beber um copo de água.
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