Jânia tinha fixação pelas palavras; lia e relia tudo que passava ou caía sob os olhos; comprava e lia dicionários: novos e antigos, de palavras ou ditos... tudo era objeto dessa necessidade de ler, conhecer e se apropriar de palavras.
A cada livro que lia, a cada novo autor e estilo que conhecia, Jânia sentia felicidade e, ao mesmo tempo, uma ansiedade imensa de descrever, com suas próprias palavras - inclusive inventadas, se fosse o caso - as coisas; coisas do cotidiano, singelas, ou extraordinárias.
E durante as leituras, quer de um rótulo de remédio ou de um romance longo, empacava em uma palavra ou ideia; parava de ler e começava uma longa divagação, que, invariavelmente, iniciava com a seguinte pergunta: "Será que eu poderia inventar uma palavra que explicasse melhor isso?" E assim, presa à esta questão, permanecia algum tempo, até que cansada desse exercício, desistia e voltava a ler.
Apesar de ser uma leitora-de-tudo-e-mais-um-pouco, nunca conseguiu criar, conceber, "dar à luz" sequer a uma simples palavra, e isso causava nela uma dor e frustração imensas, afinal o que mais desejava era "inventar e ter as suas próprias palavras".
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