quarta-feira, 17 de julho de 2013

A CHANCE.

Anderson saiu da sala boquiaberto.
Não disse mais nada; não olhou para trás; entrou no quarto, ligou o som, deitou na cama e ficou ouvindo músicas até tarde.
Durante boa parte da noite ficou pensando na vida, em como as coisas acontecem "num estalo"! e de como é triste não poder fazer nada, a não ser aceitar a realidade.
De manhã, bem cedo, levantou com um pouco-de-olheiras (a noite foi mal dormida), foi ao banheiro, escovou os dentes, lavou o rosto e ao enfrentar o próprio olhar no espelho chorou; chorou de soluçar, com lágrimas grossas descendo pelo rosto deformado pela dor; a boca meio aberta, deixava escapar palavras em tom de desespero - chamava pelo nome da avó, dona Cleuza, que tinha falecido na tarde do dia anterior.
O choro e a voz trêmula e doída chamou a atenção da mãe, que foi ao banheiro acudir o rapaz.
Dona Elvira abraçou Anderson e tentou, a todo custo, acalma-lo; preocupada em não avivar (ainda mais) as lembranças e a saudade da avó, ela dizia palavras carinhosas e afagava o rosto e o peito do rapaz.
"Filho, tenha calma! Paciência, a vida é assim mesmo; sua avó já estava doente, sofrendo... ela descansou!", dizia.
Anderson, soluçando, abraçou com força a mãe e respondeu: "Eu sei disso tudo, mas eu não queria que minha avó morresse! Eu queria mais uma chance de dizer o quanto eu a amo, o quanto sentirei saudades...", dona Elvira irrompeu em um choro tão forte e desesperado quanto o do filho; também deixou escapar algumas frases, tão doídas e mais antigas do que o rapaz; dizia: "Mamãe, desculpa! Desculpa...!" e, sem cerimônia, pegou no rosto de Anderson, encarou o filho e disse, como se confessasse: "Eu também queria mais uma chance de falar muitas coisas para ela... eu também!"
E os dois se abraçaram longamente, até que o telefone tocou, com sua campainha estridente.

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