Isabel abriu a gaveta; olhou por alguns instantes, meio
distraída; enfiou a mão esquerda na gaveta e mexeu para lá e para cá e, no meio
das ferramentas, encontrou um celular quase-antigo: usado, sujo e desligado.
Olhou para o teto, distraída, sorriu (aquele sorriso de quem
lembra de algo engraçado ou importante) e beijou, discretamente, o aparelho que
permaneceu tanto tempo naquela gaveta. Passou o aparelho na calça jeans,
tentando limpá-lo de todos os dias que ficou esquecido, propositalmente "esquecido" naquele lugar, no meio das ferramentas antigas e enferrujadas.
Colocou o celular no bolso da calça e caminhou para a sala.
Colocou o celular no bolso da calça e caminhou para a sala.
A tarde estava abafada; nem as árvores do quintal conseguiam
diminuir o calor; nem um “ventinho” corria pela casa. Isabel sentou na
poltrona, pegou o celular, limpou “mais-um-pouco” com as mãos – uma
limpeza misturada com o desejo de organizar as lembranças. Sorriu mais, balançou a cabeça, como se
confirmasse alguma verdade ou ouvisse algum segredo, que um gênio saído do
celular tivesse contado.
Apertou uma tecla, sem resultado. Voltou a apertar o botão,
até que uma luz apareceu do teclado – o celular estava ligado! Isabel apertou um,
dois, três botões, até que um sinal despertou a moça - uma mensagem!, depois de tanto tempo desligado?!?! Isabel apertou mais um botão e um pequeno texto apareceu na tela. Leu cada palavra;
fitou as frases; mordeu a quina superior do aparelho... e ficou parada, pensando.
Depois de um ou dois minutos, a moça tomou impulso,
levantou da poltrona e de pé, de forma solene, recitou, para si mesma, a mensagem recebida: “Já vi
amores doces, eternos, “para sempre” serem mastigados pela boca do tempo e do
descaso, até virarem uma farofa com gosto amargo de dor e ressentimento..” Umas poucas lágrimas correram pelo seu rosto; enxugou-as; foi até o antigo armário, abriu a antiga gaveta de ferramentas enferrujadas, apertou o botão de “desligar” (a tela apagou) e colocou o celular no mesmo lugar em que o encontrou. Fechou a gaveta, virou-se para o corredor dos quartos e disse em voz baixa: "Nunca mais!”
É, amigo, às vezes é melhor mesmo deixara boca do tempo calada...
ResponderExcluir