Ana era uma mulher solteira e de meia idade, uns trinta e cinco anos.
Trabalhava numa repartição pública e recebia um bom salário.
Era uma mulher discreta e sempre pronta a colaborar.
Ana tinha uma mania pouco comum: gostava de usar vestidos de listras grossas e que iam até os joelhos.
Morava sozinha num quarto-e-sala no Centro da cidade e, segundo os comentários das poucas amigas, vivia para o trabalho e quase não saía para festas ou eventos.
As saídas de Ana se resumiam a assistir a missa, todos os domingos, bem cedo e depois uma caminhada pelo parque; uma vez por mês participava de um almoço com amigas dos 'tempos de colégio', nada mais.
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No penúltimo domingo de setembro, um pouco depois das seis da manhã chovia. Algumas pessoas encontraram Ana se dirigindo para casa. Estava usando um dos seus vestidos de listras grossas, mas o que chamou a atenção era o horário e o itinerário - ela nunca foi vista 'voltando para casa naquele horário' -, além dos cabelos desarrumados e do fato que, a solitária mulher, caminhava com dificuldade, mancando.
Alguns vizinhos, que viram a cena, ficaram preocupados, pois Ana nunca fora vista assim.
Uma pequena quantidade de boatos, alguns maldosos, foram ouvidos na nave da igreja, em pequenos grupos no parque e no bar do seu Tomé... Eram boatos, pois todos começavam assim: "Uma pessoa viu..." ou "Ouviram dizer que...", sem que alguém assumisse ter visto ou saber realmente dos fatos, da verdade.
Falaram em assalto, sequestro, briga de família, desilusão amorosa e, até, um alcoolismo (há muito escondido, segredo guardado a sete-chaves).
Porém, a verdade, a mais pura verdade não tinha aparecido.
No dia seguinte Ana não foi trabalhar e outras suposições, maldosas, surgiram: "Não foi trabalhar por causa de marcas no corpo... olho roxo...!"
Ninguém visitou a mulher.
Somente o supervisor da repartição tinha telefonado e ouvido uma mensagem na secretária eletrônica: "Estou viajando. Após o sinal deixe seu recado!"
Na terceira noite após o acontecido, alguns vizinhos ouviram uns sons estranhos, que vinham de dentro do quarto-e-sala - sons de coisas sendo arrastadas e portas sendo abertas e fechadas.
Alguns vizinhos olharam pela janela e somente viram a luz da sala acesa, como era de costume. Fora isso, nada de diferente acontecia naquela casa.
Depois da 'meia-noite e quarenta' um carro pequeno parou em frente a porta do prédio. Depois de dois ou três minutos uma mulher, usando um vestido liso e uma mala na mão esquerda, saiu do prédio, entrou rapidamente no carro e desapareceu na madrugada.
Passou uma semana, duas... um mês e ninguém mais encontrava Ana.
Na terceira semana de outubro os vizinhos souberam que o pequeno quarto-e-sala estava sendo alugado para um homem.
O que aconteceu com Ana?????
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