A televisão sempre está ligada, num canal que apresenta, sucessivamente, programas sobre acidentes, mortes, dores e lágrimas - tudo encharcado - de imagens tão chocantes quanto as palavras.
O rádio, também fica ligado, e apresenta um programa religioso e, de tempos em tempos, ela para de cuidar da casa e dos bichos para uma oração.
Depois do almoço, Lucia vai descansar - gosta de dormir e sonhar -.
No meio da tarde acorda, prepara um café-com-leite e esquenta um pão na frigideira; pega na geladeira margarina e queijo branco; senta na copa e se serve. O rádio ligado, nesse momento, é apenas um 'companheiro', um som para não-se-estar-sozinho. Come devagar o pão e toma o café-com-leite. Olha para a porta que liga a área de serviço ao quintal e pensa.
Sobre o que pensa ninguém sabe, pois não fala sobre isso.
Sobre o que pensa ninguém sabe, pois não fala sobre isso.
Quando recebe visitas, poucas, conversa sobre as notícias do programa da televisão, sobre violência e dor; ou sobre casos desafortunados envolvendo os vizinhos - um assalto, uma briga ou um acidente... os vizinhos tentam desconversar, mas Lucia continua.
No final da tarde toma banho e ocupa seu espaço, novamente, em frente da televisão - é a hora da novela.
Por volta das dez da noite, Lucia apaga a televisão, toma um lanche e vai para o quarto; toma seus comprimidos para a 'pressão' e se deita - hora de dormir e sonhar mais um pouco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário