Lucas esperou ansioso pela noite, que parecia não chegar. Aos pais
perguntava de tempos em tempos: “Que horas são? Falta muito para o Papai Noel
chegar?”
O pai fazia uma careta e não respondia. A mãe, mais compreensiva, respondia que “Papai
Noel tem muitas casas para visitar e nem sempre consegue entregar todos os
presentes!”
Joel, o pai, censurava Leila, a mãe, repetindo uma antiga frase – “Pé que
dá fruta é o que mais leva pedrada!” e emendava: “Pare de dizer coisas que não
vão acontecer para o menino; fica inventando estórias, depois vai ter que
explicar toda a verdade!”
Leila virava as costas para Joel, demonstrando, claramente, seu descontentamento
e respondia: “Mais ajuda, quem menos atrapalha, entendeu, Joel?”
Joel balançava a cabeça negativamente, respirava fundo e saía da sala.
Lucas assistia todo o diálogo cifrado e voltava a perguntar: “Que
horas são?”
Leila fazia um sinal de silêncio para o menino; Joel voltava para a sala com
visível descontentamento, mas não censurava mais a mulher.
Perto de dez da noite, depois do jantar melhorado, a mãe mandou Lucas
ir se deitar, pois Papai Noel nunca visitava crianças que ficavam acordadas. O
menino olhava para o pai; Joel não dizia nem que sim, nem que não. A mãe
repetia a ordem e Lucas corria para a cama e ficava em silêncio – acreditava
que mesmo que não dormisse, se ficasse em silêncio, poderia receber a visita do
‘bom velhinho’ e ganhar seu presente.
O silêncio e o escuro do quarto fizeram Lucas dormir; um sono leve, um
sono de quem está alerta.
Leila e Joel conversavam na sala; falavam baixo; uma conversa de
poucas palavras e muitas caretas. O pai insistia que as estórias sobre Papai Noel
e presentes fossem evitadas; Leila, ao contrário, acreditava que lendas e
estórias eram necessárias para manter as pessoas vivas. Joel insistia que
estórias de princesas e donzelas eram uma coisa, mas mentiras, como as
promessas de presentes que nunca chegariam, só fariam mal para Lucas.
A conversa foi perdendo força, argumentos, ideias, palavras e sobraram
gestos, e, como ato final, um casal que se deitou de costas um para o outro e sem conversas.
Lucas acordou, não sabia as horas e não podia perguntar aos pais, que
estavam dormindo. Olhou em volta, sem se levantar da cama – e não viu nenhum
presente. Esperou o quanto pôde, até que o sono o tomou de novo.
Na manhã seguinte foi o primeiro a acordar. Levantou e olhou o quarto, a sala, a
cozinha e o banheiro e não encontrou o brinquedo que tinha pedido ao Papai
Noel.
Me sinto igual o Lucas...
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