terça-feira, 4 de outubro de 2011

CARLOS.

Depois de dois dias as esperanças de Manoela diminuíram a quase 'zero'; só um fio de esperança mantinha aquela mulher ligada à realidade, à crua e desumana realidade que estava vivendo - seu filho, Carlos, saiu para uma festa com alguns amigos há duas noites e não tinha voltado.
Manoela, mãe solteira de dois rapazes, já tinha 'corrido' hospitais, instituto médico-legal e as favelas próximas de casa. Já tinha ligado para todos os amigos e amigas de Carlos... nada, nenhuma notícia.
No terceiro dia a mulher parou de chorar, simplesmente não conseguia mais chorar, sequer conseguia organizar os pensamentos - falava de forma confusa sobre os fatos, não sabia ao certo que horas Carlos tinha saído ou o dia ao certo... não lembrava o nome dos amigos que passaram para buscar Carlos naquela noite...
Algumas pessoas diziam que Manoela tinha parado de chorar porque estava enlouquecendo, perdendo a noção e a razão. Outras pessoas diziam que aquela mulher, tão trabalhadora e séria, tinha 'secado' e desistido... afinal os dois filhos, há tempos, estavam metidos com maus elementos, "uns homens da boca", como algumas pessoas falavam.
No final do terceiro dia chegou a única notícia confiável (depois de tantas notícias ruins e que não foram confirmadas): Carlos tinha sido encontrado, mas estava morto, em uma lixeira duas ruas abaixo da avenida principal do bairro.
Manoela recebeu a notícia do filho mais velho. Sem chorar, abaixou a cabeça e disse para todos ouvirem: "- Acabou! Demorou a chegar este dia, mas chegou... e acabou!"
Manoela saiu de casa na direção da lixeira, queria ver 'com os próprios olhos' o corpo do filho.
Nenhuma pessoa teve coragem de deter a mulher; todos apenas acompanharam e olhavam Manoela e sua coragem.

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