MENTIRA.

Pedro nunca disse uma verdade 'completa'... mesmo quando dizia a verdade, por sua própria conta, enxertava uma (ou outra) mentira, por menor que fosse.
Pedro era o 'cara' das mentiras e nomeava as mentiras, tinha mentira-pura, a mentirinha, a meia-mentira, a mentira-pós-verdade, a mentira-da-mentira (que de forma alguma era uma verdade)... o rapaz conseguiu determinar uma categorização quase infinita de 'mentiras'.
Numa tarde de outono, quando namorava Cristina, Pedro chegou atrasado a um compromisso e começou a 'justificar' o atraso: um ônibus, uma carroça, um cruzamento, chuva... e a explicação do rapaz alcançou um nível inimaginável, até que a moça disse: "- Pare! Chega! Estou indo embora... até logo! Ligo para você qualquer dia...".
Pedro ficou atônito e perguntou: "- Vai ligar mesmo?"
Cristina olhou bem nos olhos do rapaz, sorriu, balançou a cabeça afirmativamente, se virou e foi embora.