.
Todos seguiam a procissão. Os cântigos eram entoados um a um, numa disciplina religiosa. As pessoas cantavam, rezavam e seguiam rua abaixo, todas evitando olhar uma para as outras. Uma ou outra mulher ousava olhar para o vestido e os sapatos das outras, para depois comentar em casa, no seio da família, como se fosse um comentário sem maldade.
As carolas acompanhavam a procissão junto ao padre rezando e suas condutas beiram a santidade – essa santidade que é desmentida nos ardorosos desabafos do confessionário, que são ouvidos pelo sacristão e os jovens do catecismo na nave da igreja.
Para controlar o sorriso sarcástico do sacristão e o olhar invejoso, o padre, vez por outra, tosse alto, fazendo com que todos se voltem para o percurso, para os cântigos e a seriedade exigida.
À parte, Manuela, uma jovem portuguesa, insistia em acompanhar com o olhar e um largo sorriso os passos de seu Mário, um jovem comerciante com loja na rua Direita, recentemente viúvo, que apesar da aparente tristeza mantém a beleza.
Manuela, diferente da maioria das pessoas que seguem a procissão, caminha de forma leve, sorri mais que as outras mulheres, olha insistentemente para a esquerda, onde está seu Mário, e os longos e cacheados cabelos destoam dos das carolas, que estão presos e aparentam um ar mais sério.
Padre, sacristão, carolas e as outras pessoas notam Manuela, e a inveja da maioria dessas pessoas ouve cada passo feliz e descomprometido daquela moçoila, que se diverte ao acompanhar seu Mário.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário