sexta-feira, 26 de março de 2010

ESCOLAS, SALÁRIOS, PROMESSAS... MENTIRAS.

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O que escreverei a seguir é um desabafo, e como todo desabafo (ou catarse) vem cheio de possíveis exageros e de um único olhar – rendo-me, antecipadamente, aos comentários mais diversos, de aprovação ou desaprovação e corro o risco de parecer muito igual ao que sou ou parecer extremamente o que não sou, mas, ‘correr risco’ é uma tarefa para poucos, afinal a maioria prefere o aconchego das falas ‘à-meia-boca’ e às trocas de favores, que calam as verdades e aniquilam a justiça.






A escola pública sofre. Mas, quem realmente sofre são os estudantes, seus pais e a sociedade.

Curiosamente os maus professores, que não reconhecem as características de sua área profissional e, portanto, as funções que deveriam desempenhar, também são membros dessa mesma sociedade – e, portanto, também sofrem, e muito!



A escola sofre pois tem sido um espaço infértil. Não avança, não ‘diz-coisa-com-coisa’. Está compelida e restrita a escrever em quadros, desenhar a obviedade do cotidiano e ler (muito mal) livros didáticos. Quando um estudante ultrapassa o patamar da mediocridade, é um elemento excepcional – eu mesmo, algumas vezes, fico assustado com estudantes de quarto ou quinto ano que sabem ler frases inteiras, sem ‘silabar’! Silabar é falar por sílabas.

Na prática tenho visto que a escola não identifica a diferença entre ‘planejamentos animados’ com ‘projetos pedagógicos’. Nem falo de ‘político pedagógicos’, pois seria demais. Mas, curiosamente, todos sabem o discurso do ‘politicamente-correto’, mas fazer, agir, transformar teoria em prática... está difícil.

E nesse marasmo é que a escola se vê tolida e até inútil.

Nem toda inútil, afinal ela dá comida, serve de babá (por quatro horas, mas já é alguma coisa) e dá salário para muitos profissionais da educação e ‘na-educação’ – os que vivem da e os outros que vivem na educação.



Os estudantes sofrem, pois as promessas são muitas: casa; emprego; sabedoria; conhecimento; café da manhã com frutas, ovos e chá; dinheiro para viagens; carros e etc. Mas, ao chegar no nono ano descobrem que sabem muito pouco para passar em um concurso público ou privado de emprego. Aliás, descobrem muito antes, mas a escola é um lugar para encontrar amigos, fomentar ideias (nem sempre boas) e desafiar as regras. Mas, todos sabemos o quanto sairá caro para cada estudante no futuro, não só de cada criança ou jovem, mas de toda a sociedade.



Os pais sofrem, pois não conseguem ver nos filhos (e filhas) os resultados que a escola e os governos tanto prometem. Pais cada vez mais cedo e despreparados para as funções e ações de ser um ‘educador em potencial’, os pais veem os filhos crescerem entre a rua, a falta de valores e os horários inadequados. Sofrem, pois sentem que algo está errado, mas entre a realidade e uma escola com comida, um professor que ‘discipline’ e ensine a ler, escrever e fazer contas... a escola! Mas, com sofrimento. Creio que sabem, no íntimo, que o futuro não será exatamente como os presidentes, governadores ou prefeitos falam em seus discursos eleitoreiros.



A sociedade sofre pois a escola é a porta do conhecimento, dos bons costumes e de uma possibilidade positiva para a vida em comum. E as hordas de estudantes que saem ano-após-ano das escolas com certificados e diplomas, não exitam em jogar lixo nas ruas, em pichar, roubar pequenas coisas em supermercados ou em tratar mal às pessoas mais velhas. A sociedade sofre, pois se vê em um ciclo vicioso em que tudo parece uma grande cena de uma peça teatral horrenda, daquelas que deixam a gente em suspense até o último minuto e que nos faz pedir a Deus que o final seja feliz.



Infelizmente o final de cada assalto, acidente de carro, briga, desordem... não é feliz, não é o prometido. Parece que estamos andando em círculos e a cada volta mais cansados e desestimulados, mas prosseguimos, pois a tônica da vida é ‘ir me frente’ e a cada trinta voltas, tem um salário.



Sofremos todos.



Algumas pessoas podem ler e pensar: mas e as boas escolas? E os bons exemplos que aparecem por aí? E os bons estudantes?



Não discuto a escola da elite. Não discuto escolas que atendem com seus projetos a cem, duzentos ou trezentos estudantes... quero pensar nas muitas escolas em que seiscentos, mil ou mil e duzentos estudantes se encontram com os professores, com o projeto da escola e o conhecimento. Não discuto o que está certo, afinal as estórias de ‘viveram felizes para sempre’ já existem há muitos séculos. É necessário pensar ou discutir essa escola que está aí. Uma escola com práticas perdidas. Uma escola que justifica milhões em salários públicos e resultados que se aproximam dos centavos – isso é uma metáfora!



O Professor Idalberto Chiavenatto escreveu que ‘as pessoas são a chave das organizações’, mas penso que é correto admitir que umas chaves abrem portas para o céu e outras para o inferno. Se (e somente ‘se’) é verdade que o céu é ‘pra cima’ e o inferno é ‘pra baixo’ e se também é verdade que ‘pra baixo todo santo ajuda’... para onde todos nós temos levado a escola?

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