Mas, quando a gente ama, aquele amor que mais parece um sopro de vento morno de uma tarde de primavera, que nos remete para o passado, onde nós crianças corríamos pelos jardins das casas, despreocupadas, esse amor merece ‘ficar’.
Lembro do seu sorriso. Lindo, tranqüilo, acusador. Seu olhar, que olhar, meu Deus! Um olhar que ocupava toda a rua. Muito barulho em volta, gente-que-não-acaba-mais e eu só enxergava seu olhar e seu sorriso (ou seu sorriso e seu olhar?).
E um movimento me fez caminhar. Não sei bem para onde ou como, tinha tanta gente, lembra? Mas, caminhei, por entre gente, olhares, sorrisos, mas eu percorria um trajeto próprio, que só as nossas almas poderiam traçar. E lá na esquina, olhar com olhar, sorriso com sorriso, um mais tímido do que o outro, mas ambos sorrisos.
O vento morno veio, uma tempestade de rajadas de ventos mornos... e eu corria no quintal, brincando, com seis ou sete anos, só felicidade. Corria e ria, sorria. Buscava ganhar de monstros vindos de outras galáxias... vencia; outros viam invadir e eu voltava a correr, a lutar e a ganhar. E o vento morno.
Nem lembro como começamos a falar... acho que foi um ‘olá’ tímido, mas confiante (pode ser assim? Foi!). Era uma troca de palavras, meio sem sentido, devido, principalmente, à situação.
Falamos por horas. Largamos a rua, as pessoas, o barulho e caminhamos horas. Nos dias que se sucederam foram muitas horas de caminhadas pela praia, de conversas, de olhares, de sorrisos, de frases-meio-sem-nexo-mas-com-toda-a-coerência-do-amor. E o vento morno das tardes de primavera, cheiros e os quintais se sucediam. E nós ali, lá, em toda parte, sendo levados pelo vento e pela vontade de não se afastar mais. Os inimigos intergaláticos venciam, invadiam a Terra e eu, coitado, seqüestrado e imobilizado pelo seu olhar, pelo seu sorriso e por sua existência, não podia fazer mais nada, só me render, só ser o que era... um apaixonado.
Mas chegou o dia de ir. E num ‘até logo’, meio-sem-querer-dizer, você foi e levou meu vento morno, meu quintal, minhas corridas e lutas contras os seres do espaço.
E eu fiquei. Sozinho. E lendo um livro de Maitê. E Maitê disse mais ou menos assim: quero me abandonar nesse amor como um barco no mar... sem direção, sem tempo. E eu sem querer direção, tempo ou ter outra utilidade senão o de ser um barco largado nesse mar.
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