Não sei por que motivo, ou motivos, mas a canção Devolva-me (cantada por Adriana) me leva para muito longe (deixe-me sozinho, porque assim eu viverei em paz [...]). Quando as primeiras notas soam, quando sua voz, forte e serena, entoa o “rasgue as minhas cartas e não me procure mais [...]” a viagem começa.
Sou automaticamente capturado para um mundo muito pessoal, onde só ouço. Onde as lembranças, de todos os tempos (infância, adolescência, meu pai, o livro ‘O palácio japonês’ etc.) se misturam de forma harmoniosa. Não há nenhum conflito. Vejo pessoas e momentos, ouço as falas, sinto os cheiros e as sensações.
Coloco a música para recomeçar. Lembro que quando era criança todos os dias às 18h eu e meus irmãos nos reuníamos com minha mãe para rezar, depois voltávamos para as brincadeiras; lembro da ‘Mário Paulo de Brito’, uma escola que estudei. O primeiro beijo, a primeira vez que saí sozinho... tantas coisas boas. É como se navegasse em um mar tranqüilo, suave e muito conhecido.
Acho que tudo isso acontece devido as incontáveis vezes que Adriana fala ‘retrato’ e ‘devolva-me’, como se eu quisesse de volta aqueles dias e momentos, não só na lembrança, mas de estar novamente lá.
‘Olho’ para trás. Quanta vida. Quantos passos dados. E eu no meio desse caminho. Algumas pessoas param, olham comigo (nem sempre para trás, as vezes para os lados, as vezes para frente). Outras pessoas passam, com passos rápidos. Outras, vejo que estão muito longe, atrás, e só consigo visualizar seus contornos, mas minha memória cuida para que as imagens se formem, mesmo que sejam as imagens da infância.
A música toca mais uma vez.
Dona Joana Darc a primeira professora. Yeda, a primeira namorada. Alexandre, o primeiro amigo-ator. A viagem para Porto Alegre. Soyane, a amiga-irmã-do-mestrado... enfim, uns mais perto e outros mais longe, mas todos na ‘minha’ estrada.
Adriana canta as últimas palavras... o violão acompanha “devolva-me, devolva-me, devolvaaa-me!”.
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