domingo, 20 de dezembro de 2015

INDIFERENÇA.

Lucio e Nara viviam uma vida de contos-corretos; eram casados, tinham dois filhos (dois rapazes lindos!), uma casa de dois quartos-sala-cozinha-banheiro-e-área-de-serviço, íam ao teatro ou ao cinema uma vez a cada quinze dias, jantavam 'fora' uma vez por semana... aquela vida que todo folhetim determina como 'boa' e de um casal de bem.

Nara era uma boa esposa; atenciosa com a casa e os filhos; a qualquer reclame de Lucio, mudava planos, mudava vontades... escolhia palavras, para não desagradar ao esposo. Lucio era o que se podia chamar de 'correto': cumpria suas obrigações 'de pai' com a família, não-deixava-faltar-nada em casa, era correto no trabalho e no bairro... um homem 'de bem'.
Porém, em algumas vezes Lucio se distanciava de Nara - ficava indiferente, 'na dele', silencioso... quase não-era-ele. Não procurava Nara para as carícias e 'obrigações de homem'; e nessas ocasiões, Nara perguntava o que o esposo tinha, e a resposta era sempre a mesma: "Nada, querida. Está tudo bem! Não se preocupe." Nara não acreditava naquela resposta - uma resposta de programa-automático-de-operadora-de-telefonia - sempre igual, sempre mecânica...
Foram muitas vezes em muitos anos ouvindo (Nada, querida. Está tudo bem! Não se preocupe.); Nara sempre queria uma resposta 'a mais', melhor-explicada, mas Lucio era assim e, de certa forma, exigia da esposa um comportamento adequado à resposta - compreensível e menos questionador.
Um dia Lucio chegou em casa agitado, olhos diferentes, palavras-sumidas-da-boca... bem diferente do 'lucio', mas sem destratar Nara. A esposa, preocupada (verdadeiramente preocupada!) perguntou, mais uma vez: "Lucio, o que está acontecendo? Você está tão diferente." 
Agitado, calado... estranho, Lucio virou para a esposa e ía responder, mas Nara, esticou a mão na direção do esposo, 'pedindo silêncio' e, quase soletrando, recitou: "Nada, querida. Está tudo bem! Não se preocupe."
Lucio ficou calado.
A partir daquele dia, Nara mudou... passou a ser uma esposa indiferente, silenciosa... quase não-era-ela com Lucio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário