Dormi como em muitas noites - sono e tv ligada.
Acordei com somente mais um dia de vida, de mais velhice, de mais experiência, e com muitas mais oportunidades de fazer o bem, ser bom e buscar a felicidade.
Mas, quando me fotografei e olhei a imagem impressa, que susto!, eu tinha envelhecido vinte, trinta ou quarenta anos; a pele, os cabelos, as rugas... tudo estava diferente, mais parecido com o tempo que passa voando, do que com a minha adolescência.
Olho mais uma vez para a foto; não me assusto mais, somente sinto uma sensação de "déjà vu" somado com o desconhecido-esperado - eu me senti vendo a mim mesmo no futuro, sem saber como eu seria... o primeiro impacto dessa sensação não foi bom...incomodou, doeu na alma... e eu sofri de um mal que sempre me disseram que (sempre) existiu - o preconceito sobre a velhice.
Guardei (escondendo) a foto num livro de muitas páginas, e com a imagem virada para o final da história - fiz o que pude para evitar, negar, distanciar aquele eu-velho de mim mesmo... não consegui! Um, dois, três dias pensando, lembrando e envelhecendo mais, e eu não consegui resistir aos pensamentos e desejos; virei as páginas até encontrar a foto; peguei e acendi a luz (preciso de mais claridade para enxergar melhor) e comecei a olhar e analisar aquele velho, conhecido, íntimo; os olhos eram os mesmos! A boca, que sempre quis falar de versos e dizer "muito obrigado" tinha mudado, mas os versos e o agradecimento não. Olhei a pele, os cabelos (e, sem querer, arrumei um pouco os cabelos com os dedos indicador e médio da mão direita)... "É! Mudei!", foi a minha constatação.
Peguei a foto e passei os dedos, acariciando aquele eu mais velho... precisei daquele carinho. Senti vergonha de ter-me colocado de "castigo" num livro de incontáveis letras em tantas páginas; "Que bobagem! A lagarta TEM que mudar para vir a ser uma borboleta, e voar, sem que deixe de ter rastejado pelos jardins e galhos. Esse que me olha, diferente do como me sinto, sou eu... e ponto final!"
Peguei um porta retrato de madeira, arrumei a foto atrás do vidro e coloquei moldura-e-eu na estante, de frente, cara a cara comigo.
"Que bom ter chegado até aqui!'
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