segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DOIS DIAS OU DOIS MINUTOS.


Miguel queria mais... Queria mais oportunidades, mais dias... mais alegrias ou lágrimas... ele, simplesmente, queria mais, porém, acima de tudo e mais do que tudo, queria apenas mais um ou dois dias ("Só mais um ou dois dias, nada mais!", falou baixo, quase em silêncio).
Precisava, muito, desses dois dias.
Num esforço incomum se perguntou: "Por que Deus, tão poderoso e criador de todas as coisas no mundo, não pode (num gesto) conceder mais dois dias?"; ante a falta de uma resposta, sentiu uma raiva profunda de Deus.
O silêncio do quarto era desorganizado pelos sons de dois equipamentos que mantinham Miguel respirando; uma dor forte atravessou seu corpo - uma dor diferente - e logo entendeu que era questão de pouco tempo.
Ainda conseguiu pensar na família... tentou lembrar da última vez que pescou ("Adoro pescar!", pensou), mas não conseguia organizar as lembranças... num último esforço suplicou para Deus e para o próprio corpo: "Só mais dois minutos! Por favor."
E então, como se o mundo tivesse parado à sua volta, Miguel conseguiu se concentrar e lembrou dos sorrisos da esposa, Juliana e Pedro, os filhos. Sorriu, como se estivesse retribuindo. 
Firmou o pensamento e lembrou da última pescaria; e dos peixes que fisgou naquele dia... "Ah... que bom esse pequeno tempo!"
Como os segundos "corriam", Miguel começou uma oração: "Pai nosso...", mas antes de terminar dormiu.

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