SEU JOVEM.

Quase todos os moradores, das crianças aos adultos, conheciam seu Jovem.
Seu Jovem era um dos moradores mais antigos daquelas 'bandas', e desde pequeno sempre foi solícito, sempre ajudava a todos que precisavam, até mesmo em prejuízo próprio. Por isso, aquele homem moreno, de cabelos e barba branca e sessenta e sete anos, "bem vividos", como ele mesmo dizia, vivia sorrindo e cumprimentando a todos que passavam.
Porém alguns moradores da localidade evitavam seu Jovem, pois aquele simpático senhor tinha a mania de dizer que sentia a presença da 'morte', "como uma criança sente o cheiro do café da tarde", explicava.
Algumas pessoas tinham um tipo de receio de estar perto do seu Jovem, pois, rezava a lenda, se sentisse a 'presença da morte' não se inibia em apontar para a pessoa e dizer: "Cuidado, ela está perto de você!"
Outras pessoas nem ligavam, diziam que tudo isso era besteira, pois na contagem geral seu Jovem errava mais do que acertava suas previsões.
Maneco, dono do bar mais popular da localidade, fazia pouco dos pressentimentos do seu Jovem: "O Jovem só acerta quando o sujeito está pela 'hora da morte'. Já vi ele errar muitas vezes, e com essa mania já arrumou muitas inimizades!", e isso era uma verdade.
Os dias, meses e anos passavam, e seu Jovem sempre sorridente, pronto para ajudar a quem precisasse e pressentindo cada vez menos a 'morte'.
Numa tarde quente de outubro, lá pelas quatro e meia, seu Jovem ajudava dona Isaura a carregar duas bolsas de compras. No caminho, a cada passo, seu Jovem conversava com a antiga amiga. Na porta da loja de móveis seu Jovem parou de repente e segurou dona Isaura pelo braço; os dois ficaram em frente a um espelho de 'corpo inteiro' e seu Jovem falou para a amiga: "Está vendo? Ela está bem atrás de nós..." Dona Isaura olhou, olhou o espelho e respondeu: "Não, Jovem, não estou vendo!" Nesse momento, seu Jovem começou a ficar pálido e soltou as bolsas no chão e, logo depois, caiu morto.