CAÍA E CAÍA...

O menino nem pensava direito sobre 'segurança' ou 'insegurança', ele só via a pipa caindo, segundo a segundo, à sua frente.
Uma, duas, três ruas e dois quarteirões eram o 'campo de jogo' dele - tinha que pegar aquela pipa 'voada'; tinha que ser o primeiro a chegar e pegar, de preferência, antes que ela caísse no chão.
O único pensamento do menino era a conquista daquele objeto de três varetas de bambu, papel fino, linha e cola, e para isso, corria sem respirar direito - o peito ardia, por causa do esforço. Os olhos estavam fixos na pipa, que, sem dar a mínima atenção à algazarra dos meninos, caía e caía, levada pelo vento.
De repente, numa curva do quarteirão, a pipa 'sumiu' e o menino tentava correr mais rápido, para não perdê-la de vista. E enquanto corria, o menino pensava: "Será que caiu no telhado? Ou ficou agarrada numa árvore?" Nada iria detê-lo e se caísse num telhado ou ficasse agarrada numa árvore, não importava, ele subiria e pegaria seu 'prêmio'.
Quando terminou a curva da esquina voltou a ver a pipa, que caía e caía... bem próxima do chão.
Correu mais rápido, já quase sem forças, e não via nenhum outro menino perto e o seu pensamento era um só: "Vou pegar! Vou pegar!"
A poucos metros da pipa, já preparava um salto para agarrá-la... quando surgiu um homem, que esticou a mão e pegou a pipa no ar. O menino não pôde acreditar no que via; uma raiva tomava conta dele. Chegou perto, com o peito doendo, tentou se acalmar e pediu para aquele homem a pipa.
"Moço, me dá a pipa?"
O homem ria e negou o pedido, dizendo que daria ela para seu sobrinho.
O menino insistiu: "Por favor, por favor...!"
O homem disse secamente: "Não! Sai daqui, moleque!"
O menino se afastou com muita raiva e pensava: "É muita injustiça! Ele está com a pipa na mão, mas não correu sequer um quarteirão para pega-la."