Meri chegou cedo a casa; beijou os filhos; mudou de roupa e
foi para a cozinha – “hora de preparar a jantar!”, pensou.
Aos poucos foi pegando uma, duas panelas, legumes, faca,
colher... e, enquanto descascava e cortava batatas e inhame, ia pensando na
vida.
Os olhos fixos no trabalho de casa denunciavam um pensamento
longo, cheio de detalhes; de vez em quando balançava a cabeça, como querendo
afastar os pensamentos ou as palavras, mas, sem sentir, estava novamente com os
olhos na pia, nos legumes e nas panelas, pensando...
Foi até o quarto e trouxe algumas roupas e colocou nos
baldes; reclamou com os filhos sobre as brincadeiras barulhentas e voltou para a
cozinha. Mais uma panela e a ‘carne’ foi para o fogo e, depois, o arroz. Meri
continuava com aquele olhar, quase imóvel, a cabeça também...
Num meneio de cabeça limpou os olhos – estava chorando – e um
dos filhos, que estava observando a mãe desde que ela chegara a casa e não
brincara com eles, viu tudo, mas também ficou em silêncio. Não sabia o que
tinha acontecido, mas evitava ‘bulir’ com a mãe nesses dias de choro. O menino
levantou da sala, foi até a cozinha, encostou na mãe e a abraçou forte, sem dizer uma palavra. Em silêncio, Meri aceitou o carinho, até que ela falou: “Chega
pra lá, menino. Tenho que terminar a janta!” E ele voltou para a sala, para ver
televisão.
Meri voltou para o quarto e chorou, agora sem medidas e sem
cerimônia. Chorou ‘de fazer barulho’, mas nenhum dos três meninos foi até o
quarto – eles sabiam que a mãe não gostaria de carinhos ou palavras nessas
horas.
Depois de alguns minutos ela voltou para a cozinha, cabeça
baixa, rosto vermelho e olhos inchados e, pegando uma colher, mexeu nas
panelas, provou o arroz e os legumes.
Um silêncio se fez na casa; os meninos já estavam sentados e
calados, desde que ela começou a chorar no quarto, e assim continuaram,
esperando o jantar.
Meri não olhava para eles, mas eles, ao contrário, não
tiravam os olhos dela.
Depois de algum tempo, a janta foi servida e
todos sentaram no sofá e assistiram televisão até o final da novela. Depois cada
um foi escovar os dentes e se deitar. E Mari ficou sozinha – ainda mais
sozinha.
Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade.
ResponderExcluir