terça-feira, 26 de junho de 2012

ALMOÇOS EM FAMÍLIA.

Tia Neusa estava sentada, em frente à televisão, vendo um telejornal ou algo semelhante.
De repente, deu um pequeno salto e ficou de pé.
Andou metade da casa procurando alguma coisa.
Eu estava olhando sem entender bem o que estava acontecendo, mas mantive o silêncio - não queria interromper minha tia e, ao mesmo tempo, queria descobrir o que ela lembrou e procurava com tanta vontade.
Alguns livros foram abertos, umas revistas antigas, que estavam dentro de uma mala no quarto, foram mexidas... mas, nada da minha tia parar de procurar. Como tudo começou - de "estalo" - parou.
Tia Neusa encontrou um saco plástico, de tamanho médio. Olhou algum tempo para o saco e depois sentou na mesma cadeira; desligou a televisão e falou para eu sair da sala.
Nunca minha tia havia pedido algo semelhante - sair da sala, deixá-la sozinha... - mas, atendi, a contragosto, afinal eu queria saber do que se tratava, que saco plástico era aquele.
Fiquei no corredor, que liga a sala à cozinha e ao banheiro. Fiquei em silêncio, querendo "ver" com os ouvidos - qualquer som, por menor que fosse, era uma imagem para mim.
Mas, o silêncio era quase total. A única "imagem" que ouvi foi a minha tia abrindo o saco, com cuidado e devagar, e tirando de dentro uns papéis.
Silêncio e mais silêncio.
Não aguentei a falta de sons e "imagens" e encostei meus olhos no batente da porta e vi, aos poucos, minha tia olhando fotos antigas; olhou uma a uma; vi que ela sorria para umas fotos, fazia cara de séria para outras e até falava com algumas: dava conselhos, ralhava... e ria novamente.
Depois de alguns minutos assim, vi que a tia Neusa chorava. Chorou de felicidade e de tristeza; de lembrar e de saudade... mas, certamente, não chorou de "esquecer", pois seus olhos denunciavam que lembrava de cada foto e de cada pessoa e lugar que via.
De repente minha tia me chamou: "- Nico! Nico, venha até aqui!"
Saí do meu esconderijo e fiquei em pé ao lado dela.
Ela passou as fotos para mim e disse: "- Estas fotos são dos almoços de domingo aqui em casa; quando todos vinha e se divertiam juntos... Agora, todos cresceram, casaram, mudaram... cada um seguiu o seu caminho, por isso o que sobrou de todos aqueles dias alegres foram essas fotos!"
Sentei ao lado da minha tia e vi cada uma daquelas fotos, todas em preto e branco.

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