Julio era um homem velho, seu rosto e mãos aparentavam muito mais anos do que realmente tinha.
Caminhava pela rua onde morava em busca de alguma novidade, fosse ela boa ou má, e nessa busca ele ia e vinha várias vezes. Olhava para o quintal das casas, para as fachadas dos prédios e comércios procurando alguma 'novidade': será que pintaram uma parede? Será que mudaram uma porta? Será que alguém morreu?
Além das caminhadas, Julio arrumava motivos para ir e fazer pequenas compras na quitanda, padaria ou loja de ferragens, e assim ocupava seu dia. Comprava dois pães e conversava com amigos da juventude; voltava para casa e, falando sozinho, comentava em voz alta as últimas notícias, mesmo que elas fossem antigas notícias! Depois de algum tempo ia até a farmácia e comprava um remédio, que nem precisava, e conversava com a dona Lucia ou seu Jorge; falavam de coisas cotidianas: um vizinho novo na rua 'de trás' ou a enfermidade de um antigo amigo... e assim, Julio ia preenchendo seu dia de atividades e 'novidades'.
No final da tarde, quando o comércio começava a fechar e as pessoas se recolhiam em suas casas, Julio maldizia as noites, pois as ruas ficavam perigosas e as novidades 'adormeciam'. Mas, mesmo não gostando das noites, Julio abria a janela da sala e ficava olhando o pouco movimento da rua; ficava ali como uma criança que espera surpreender um 'papai noel' na noite de natal!, olhava para a direita e para a esquerda esperando algo acontecer... depois de uma, duas horas, e com as pernas cansadas, Julio abandonava a janela, fazia um lanche e ligava a televisão, invariavelmente em telejornais recheados de notícias e imagens violentas, e isso divertia o velho homem, que repetia em voz baixa: "Isso tudo é a vida de verdade! É isso que acontece no mundo o tempo todo...", buscando dar às notícias e imagens uma autenticidade ainda maior.
Invariavelmente às dez da noite, Julio, fechava a janela e ia para o quarto, tomava alguns remédios e ficava pensando no dia seguinte, desejava que acontecesse alguma coisa durante a noite, para ter novidades na manhã seguinte, e logo adormecia.
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