Elisa sempre soube seu lugar naquela casa. Quando chegava da faculdade cruzava a sala na direção do corredor de quartos a passos largos, como se diz. Tudo porque não queria encontrar as pessoas daquele apartamento. Tinha um certo horror a tudo aquilo, apesar de também morar naquele lugar. E quando cruzava a e fechava a porta do quarto, sentia um alívio muito estranho - tudo ficava mais calmo, mas sabia que era uma tranquilidade passageira, pois era uma questão de tempo até ter que voltar na sala e ter contato com as outras pessoas.
Sentou na cama e olhou pela janela e ficou pensando no passado, quando ainda era uma menina e tinha pouco conhecimento de todas as histórias daquele apartamento e seus moradores. Lembrou que era muito feliz e que sempre estava na praia com os amigos e amigas. Sua vida era como a de uma princesa - não tão rica - mas, sem preocupações, com roupas legais, passeios, dinheiro para os lanches nos shoppings, curso de inglês e de informática... tudo o que uma menina de classe média alta tinha e precisava para se afirmar no seu grupo.
Viu uma foto da adolescência e sorriu - "como alguém poderia usar um vestido daqueles?", pensou, ironizando a moda da década passada - e continuou sofrendo com os seus pensamentos. Por mais que tentasse encontrar explicações, não conseguia aceitar tudo o que aquelas pessoas tinham feito; era tudo tão horrível e por motivos fúteis - um deles era para ter cada vez mais dinheiro, dinheiro que ela, Elisa, tinha ganho para gastar com coisas, igualmente, fúteis.
Olhou para o armário e ficou pensando uns dez, quinze minutos. Levantou, abriu o armário, pegou uma mochila e uma mala e foi colocando roupas, sapatos, objetos pessoais. Fechou a mochila e a mala, pegou documentos e dinheiro e saiu. Na porta ainda olhou mais uma vez para o quarto, o 'seu mundo' por tantos anos, virou-se e atravessou a sala com pressa e foi embora - havia decidido assumir sua parte naquilo tudo e partiu.
Adorei a fibra!
ResponderExcluir