domingo, 15 de maio de 2011

MALANDRO E CABROCHA.

As ruas escuras escondiam parte do corpo do malandro.
De poste em poste, a cabrocha vinha se equilibrando nos saltos, nos seus quarenta e oito anos e nos copos a mais de cerveja, que tomou no bar do seu José, entre um samba e outro, entre um riso e outro.
O malandro olha a caminhada da cabrocha - um poste, dois postes... mais cinco postes e ela estará ao alcance de suas mãos.
De repente ela para a caminhada e começa a voltar. Certamente tinha esquecido alguma coisa no bar ou com alguém.
O malandro não se alterou. Era só uma questão de tempo, ela ia, mas tinha que voltar, pois aquele era o único caminho para a sua casa.
Acendeu um cigarro e se escondeu ainda mais nas sombras das árvores, daquela rua mal iluminada e de casas muito antigas. Nenhuma janela ou porta estava aberta, o silêncio era quase total, se não fosse pelos gatos que pulavam dos telhados para a rua em disparada, certamente fugindo de outros gatos.
Em menos de dez minutos a cabrocha volta a aparecer sob a iluminação do primeiro poste, na curva da rua.
Um, dois, três postes... e logo a frente a cabrocha dá um grito de terror. Abaixa a cabeça, grita ainda mais forte e se joga sobre o corpo de um homem vestido todo de branco e chapéu creme claro.
O homem estava caído após o sétimo poste com um corte profundo no pescoço, que ainda sangrava.
A cabrocha gritava sem parar, mas ninguém veio acudi-la, sequer uma janela foi aberta.

Um comentário:

  1. Plinio.
    Quem teria matado o malandro? Teria sido ela que voltou para pegar uma navalha? Naquele tempo a navalha era a arma usada pela malandragem e cortava muitos pescoços atrevidos!

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