sexta-feira, 11 de março de 2011

TELEFONEMA

Eu nunca mais fui o mesmo após aqueles anos de minha vida.

Até hoje me recuso a ler cartas, ver fotos ou mesmo falar com grande parte das pessoas que convivi naqueles dias, pois tudo ainda (me) é muito presente e causa mal-estar demais. Só de lembrar, de voltar naqueles anos, me sinto mal, sinto dores e enjoos... é como se tudo estivesse acontecendo mais uma vez, porém, agora com a diferença que eu sei como irá acabar...

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O telefone toca. Atendo normalmente. Uma voz conhecida no outro lado da linha em faz voltar no tempo - e 'caio' exatamente dentro de uma sala escura, com pessoas que não conhecia e muito barulho... minha cabeça dói intensamente e sei que isso não acabará bem. A voz pede para eu confirmar meu nome (Oi, é você?) e eu nem sei o que dizer, o que fazer... agir como uma criança diante do medo extremo? Desligar? Ficar mudo? Ou simplesmente falar?

Não fiz nenhuma dessas coisas - eu apenas esqueci tudo... fiquei 'fora do ar', até que a ligação caiu.

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Nos dias seguintes voltei a viver com a preocupação do telefone tocar e de ser aquela voz mais uma vez. Foram dias difíceis - o telefone tocava e eu saía de perto, fugia do som - e mais do que isso, fugia de tudo o que aquela voz, escondida pela distância (inclusive do tempo), me  provoca, principalmente as lembranças.

Um comentário:

  1. Achei o texto gostoso de ler, super interessante.
    Incrivelmente, sensacional!!!
    Seria interessante que continuasse a escrever em cima dele, pois fiquei curioso em saber o porque do "tal medo de atender o telefone"; fica no ar a curiosidade!
    Grande abraço.
    Juliano.

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