"Nem sei por onde começar..." Essa foi a frase que deu início ao mais tenebroso dia da vida de Emanuel.
Amanda não levantava acabeça do chão; parecia procurar palavras, pequenos objetos ou sombras... talvez procurasse lembranças, algo que fizesse ela parar de falar.
Mas, nem mesmo a frustrada procura de Amanda foi suficiente para deter as palavras, que saíam como foguetes contra Emanuel.
Agora ela chorava, tinha no olhar uma dor muito grande; parecia querer falar-o-mundo-de-uma-só-vez naquele momento.
Emanuel estava mudo; não era possível saber se por susto, medo ou a única forma de assumir culpas. O fato é que nenhuma palavra saía dos lábios dele; só a respiração permitia saber que Emanuel era um humano e não um boneco de cera.
Em frente ao mudo Emanuel, Amanda falava baixo, mas sem parar. Trazia para a conversa(-monólogo) as mais variadas estórias, frases... detalhes, que Emanuel tinha, definitivamente, esquecido em algum lugar do passado. Mas ela... ela não só tinha guardado cada palavra, olhar, gesto daquelas estórias, mas agora relembrava tudo ao estarrecido Emanuel, com riqueza de detalhes. Ele abaixou a cabeça e começou a chorar; um choro compulsivo e longo... mas isso não fez com que Amanda parasse - ela continuava... realmente queria falar-o-mundo-de-uma-só-vez!
A cada palavra Emanuel ía se desesperando... ele pressentia o que iria acontecer.
De repente Amanda começou a mudar a velocidade das falas, a respiração começou a voltar ao normal e, enfim, as lágrimas brotaram e rolaram pela face da moça... em um minuto Amanda se calou.
Emanuel levantou a cabeça o mais rápido que pode; Amanda se levantou, se virou e foi embora... e o rapaz sabia que era para sempre.
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