sexta-feira, 1 de outubro de 2010

DOCE DE GOMOS DE JACA E VOTOS

.
Acordou cedo.
Disposto e com um sorriso malicioso no canto da boca, ele preparou o café... e que café!
Leite, chocolate, suco de laranja, biscoitos, pães, manteiga, queijo e doce de gomos de jaca.
Aprontou a mesa, que não era grande o suficiente para um café tão 'chique'; o jeito foi colocar alguns dos itens sobre uma cadeira. Arrumou umas três ou quatro flores de plástico, de vivas cores, lavou cada uma, secou com o secador de cabelos da prima (ela tinha esquecido o eletrodoméstico na última festa-de-família).
Flores no lugar, duas xícaras antigas e velhas e toda a comida e bebida sobre uma toalha de renda de plástico (... pensando bem, a toalha de plástico combinava bem com as flores!).
Enfim, tudo pronto. Virou para o quarto e começou a chamar: "Manuela... meu bem, por favor, venha tomar café!"
Nada!
Deu um ou dois passos na direção da porta e insistiu: "Manu, vem! Vamos deixar nossas diferenças para lá... venha!"
Nada!
Começou a ficar irritado, mas antes que fizesse algo que pudesse se arrepender mais tarde, antes que soltasse uma palavra ou frase fora do tom (que o momento de reconcialiação exigia), Élio deu mais dois ou três passos rápidos e adentrou o quarto.
Nada!
Manuela não estava.
Um calafrio intenso subiu e desceu o corpo do homem... sentiu uma breve tonteira e um nó apertou a garganta. Lembrou momentaneamente da mesa, da toalha de renda de plástico, do café 'chique' e das flores coloridas... tudo misturado, como se estivesse em um vendaval. Olhou rapidamente para todo o quarto e descobriu um pequeno pedaço de papel sobre o bidê (a mesinha que fica ao lado da cama). Mais três ou quatro passos, rápidos, e o papel estava na mão de Élio.
Élio desdobra o papel e lê: "Fui votar, volto mais tarde! Ah, não vamos ficar de briguinhas infantis. Amo você! Adivinha em quem vou votar?"
Élio dobra o papel, caminha para a sala, senta em frente ao café e enche um copo de café, puro e sem açúcar; bebe de um só gole e fala por entre os dentes: "Aposto que vai votar naquele candidato calhorda!"
Levanta, pega o título de eleitor sobre a televisão e sai. Deixa o café 'chique' para trás, o sorriso no canto da boca e a voz melosa (Manueeela...) também.
Para na calçada em frente à casa, volta, abre a porta, pega um copo e enche de doce de gomos de jaca, passa a mão numa colher e decide ir votar; como que querendo castigar Manuel decide: vou votar naquele calhorda! Ah se vou...
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário