terça-feira, 20 de julho de 2010

O SILÊNCIO DAS JANELAS E PORTAS FECHADAS.

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Aquela mulher não dizia uma só palavra. Olhava tudo e todos com um certo desconforto e, concomitantemente, uma distração incomum.
Todos que chegavam cumprimentavam a mulher, que se limitava a um sorriso meio raso, meio forçado e de retribução aos apertos de mãos, que também não eram muito verdadeiros... eram, sim, uma demonstração de educação, de 'dever' social que é preciso ter por uma viúva tão jovem e bela.
Ela olhava para os cantos, procurando algo ou alguém; fazia calor e os ventiladores não conseguiam 'dar conta'. Umas pessoas olhavam para a viúva e faziam breves e quase-silenciosos comentários, certamente sobre o fato - a infelicidade da perda do marido, que era tão jovem quanto ela.
As brincadeiras das crianças, no pátio da casa, incomodavam a alguns, mas ninguém tinha a ousadia de comentar, na verdade evitavam até olhar, pois uma das 'curiosidades' da tão jovem viúva era o vai-vém das poucas crianças.
Com o final da tarde, a noite se aproximava rapidamente... e a preocupação de alguns visitantes era se o velório iria ser mantido durante toda a noite, afinal muitos ainda queriam ver-com-os-próprios-olhos o corpo e o resultado de tão breve vida. A resposta chegou com as primeiras estrelas - a viúva, de pouca experiência, mas de muita determinação recolheu de forma calma as três crianças, sorriu para todos os presentes e começou a fechar as poucas janelas e portas da casa... todos entenderam, sem demora, que o velório, naquele dia, tinha chegado ao fim.
Novos apertos de mãos, rápidos abraços e palavras de consolo preencheram o ambiente e o tempo entre a última janela fechada e a saída do último visitante, que saiu a contragosto.
E de fora da casa, agora toda fechada, as pessoas levantavam hipósteses sobre o que estaria acontecendo naquela sala.
De dentro da casa somente o (fúnebre) silêncio dominou a situação e foi a única resposta para a pequena cidade.
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