quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A VIDA.

O dia amanheceu sem muitos sons; podia se ouvir o canto de alguns pássaros e, ao longe, o som ritmado do trem, que passava a cada meia hora.
Pela janela dona Augusta via o vai e vem de borboletas amarelas e umas poucas marrons. O dia estava claro.
Dona Augusta bebericava um café, preparado à moda antiga - no coador de pano. E enquanto bebia o café, pensava na vida... como, realmente, estaríam os filhos, que há sete anos moravam no estrangeiro - afinal, "telefonema não é ver ali, frente-a-frente"; nesses momentoe pensava, também, em Afonso, o ex-marido, que se mudara para a cidade vizinha, e tinha horror a telefones, tecnologias e, muito menos, virtualidades - dona Augusta sempre disse que "era mais difícil saber da vida do Afonso do quê de uma freira enclausurada...", riu do pensamento, mas era verdade. Mas logo chegaria o natal e ela saberia do ex-marido, pois ele sempre vinha visitá-la no dia 24 ou 25, e traria, como nos últimos anos, pães, que ele mesmo fazia.
O copo de café estava vazio; dona Augusta, pensando-em-tudo-sem-pensar-muito, colocou mais dois-dedos de café no copo, e retomou o olhar para o quintal, acompanhou as borboletas e um colibri, que fuçava as flores... e pensou (mais dois-dedos de pensamento): "É... isso é a vida."
(Plínio Marcelo Decaro Silveira - 13/10/2016)

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