Silvio olhava pela janela; via o prédio defronte e suas muitas janelas.
Viu alguns vizinhos abrindo as janelas, colocando tênis, sapatos e travesseiros no sol da manhã. Viu um rapaz escovando os dentes e uma senhora, muito idosa, que também olhava pela janela, uns três andares abaixo. No alto de um outro prédio, viu duas aves pousadas nas antenas.
Olhava para tudo parado, pensativo, meio que querendo-não-existir; levantou e se apoiou na janela. Viu a rua e o pouco movimento daquela hora da manhã. Pensou como seria cômodo voltar atrás, não ter dito ou feito certas coisas; como seria bom que nada daquilo tivesse acontecido. Lembrou dos chineses, que só dão uma resposta definitiva após três dias pensando em um assunto... Pensou muitas coisas, mas nada afastava de Silvio aquela sensação dolorosa de que tinha errado, e que os erros, algumas vezes, são para sempre - nunca são esquecidos.
Sofreu apoiado naquela janela, solitário, triste e sob o sol.
Sentiu pena de si mesmo; riu das cenas estranhas que passaram pela cabeça; curvou a cabeça até a base da janela e teve vontade de chorar, mas resolveu levantar a cabeça, deixar o sol iluminar e aquecer todo seu rosto... Voltou-se para dentro do apartamento; tirou a roupa toda e foi para o banho...
Nenhum comentário:
Postar um comentário