sábado, 21 de janeiro de 2012

INDIFERENÇA...

Ricardo falava pausadamente: "- Não! Definitivamente eu não vou mais cair nas suas jogadas, nos seus labirintos de palavras... Eu quero liberdade! Eu quero sair desta casa e não precisar mais olhar para você. Eu quero morar do outro lado do planeta... parar de ver o que víamos; parar de comer o que comíamos; parar de rir do que já rimos um dia... Eu só não-quero-mais, se é que você é capaz de entender o que eu estou dizendo..."

Mas, Paula aumentava ainda mais o som de uma música, o que irritava milhões-de-vezes Ricardo. Essa era uma tática daquela mulher desesperada frente aos posicionamentos do marido, que insistia em sair de casa naquela noite, naquele momento... Paula dançava de forma alucinada em frente à porta da sala, a única porta que dava para o quintal, o caminho pelo qual Ricardo ganharia a rua, a liberdade e o futuro, que há muito tempo desejava.
Depois de dois anos de casado Ricardo desejava sair de casa e se separar de Paula, mas as recorrentes sessões de loucuras, gritos, choros e dramas da mulher o impediram até aquela noite.
Mas, nesta noite Ricardo foi surpreendido por um ataque de ciúmes "mais do que doentio" da mulher - ele tinha parado na padaria para beber uma cerveja com amigos do trabalho e resolveu que não precisava avisar a mulher; com a demora do marido, Paula correu todo o comércio local até chegar na padaria, onde encontrou Ricardo se despedindo dos amigos e apertando a mão de Anita, uma prima de consideração que tinha entrado na loja para comprar uns pães. Quando viu Ricardo apertando a mão de Anita, Paula perdeu a noção da realidade e todo o equilíbrio e partiu para cima dos dois, e em poucos minutos já tinha batido no marido, na prima de consideração e num dos atendentes do estabelecimento.
Ricardo saiu direto para casa; pegou uma mochila e uma mala e colocou algumas roupas e objetos, além de documentos e já estava de saída quando Paula entrou, trancou a porta da sala, ligou o som e começou a dançar, com a boca sangrando.
Ricardo assistiu a cena da mulher por mais de vinte minutos, tentou falar, segurou a mulher... tudo em vão.
Como última alternativa, o homem pegou a mochila e a mala, e começou a falar: "- Definitivamente ...".
Paula chorava e aumentava o som; dançava de forma mais frenética e evitava o olhar de Ricardo.
Ricardo respirou fundo; caminhou na direção da porta, rodou a chave na fechadura, abriu a porta e saiu! Paula dançava de costas para tudo, indiferente...

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