Todos os dias Joana levantava na mesma hora, arrumava a comida na antiga marmita, arrumava os cabelos, pegava a bolsa, contava o dinheiro da passagem e saía para a noite escura, na verdade, para a manhã escura.
Pelo caminho ia organizando o dia pelas tarefas. De passo em passo ia falando consigo mesma o que era preciso fazer: preparar o café, lavar a roupa, ir no supermercado, telefonar para o médico, arrumar os quartos (almoço, não, pois os patrões estariam trabalhando) e passar as roupas. Depois, poderia ir embora para casa.
No ônibus sentiu falta do guarda-chuva... e tinha ouvido que naquele dia iria chover. Sentiu um tanto de raiva de si mesma, pois tinha esquecido o guarda-chuva, mas, o que fazer? Nada!
Dormiu alguns momentos da viagem; mas ficou acordada na maioria do trajeto. Viu o céu azul-escuro ir clareando, clareando até ficar róseo e então começou a ver os primeiros raios de sol.
Até aquele dia, Joana não tinha parado para pensar sobre a alternância de dias e noites. Tudo o que sabia, sem pensar muito, é que saía de madrugada para trabalhar (ainda ‘de noite’) e que chegava em casa muito depois do sol da tarde sumir no horizonte, dando lugar às estrelas e à noite. Joana riu de tudo aquilo – agora lembrava da professora falando que quando é de manhã no Brasil, é noite no Japão, por isso sabia que o Japão ficava ‘do outro lado do mundo’ – riu porque tudo em sua vida era tão comum, tão repetitivo, que nunca tinha pensado que enquanto fazia o café dos patrões, os japoneses estavam jantando; riu porque só pensava nisso quando era criança... e criança pensa cada coisa...
Crianças querem voar; acham que vão ser ricas e querem ser bonitas quando crescer, que nem aquela atriz da novela; mas, quando cresce a criança ‘descobre’ que voar, ser rica e sempre bonita é um sonho e que os sonhos têm asas grandes e compridas e que quanto mais as pessoas crescem, mais difícil é alcançar cada um dos sonhos – os sonhos voam para longe de algumas crianças... e de muitos adultos...
Quando prestou atenção, Joana percebeu que já estava tudo claro, que o ônibus estava quase vazio e que ela tinha passado dois pontos do seu trabalho... ficou tão chateada, mas o jeito era levantar, puxar a campainha do ônibus e voltar caminhando até o ponto certo e ir para o trabalho. No caminho Joana resmungou para si mesma: “Quem manda ficar pensando em sonhos de crianças? É isso que dá...!”
Mas enquanto ela pensou tudo isso, nem que só no imaginário, ela passeou pela infância, perdeu o ponto em que desce todos os dias e saiu da rotina. Será que ela, numa viagem dessas ao trabalho, não vai lembrar do dia em que perdeu o ponto de descer e achar graça? hehehe Adorei!!! Beijinhos...
ResponderExcluirCara que maravilha de conto,penso que a mocinha do conto sonhou de novo o antigo sonho,mas como a realidade está ai todos os dias ela teve que por os pés no chão e puxar a campainha enquanto houve tempo...acho que somos assim mesmo! sonhamos sim,mas com os pés no chão e enquanto pensamos nos perder algo nos avisa que é hora de acordar para a vida...
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