terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CONVERSAS 4

Célio sentou à sombra da antiga mangueira. A tarde quente e abafada era um prenúncio de chuva durante a noite. Observava o vai-e-vem das pessoas - umas passeando, outras namorando... e muitas apenas pegando um atalho pela praça, que tinha somente alguns bancos de concreto e árvores frutíferas.
No meio daquelas pessoas Célio viu uma garota, uma garota com um casaco vermelho. Pensou que era muito incomum alguém estar com um casaco naquela tarde quente; era praticamente uma loucura, por isso riu daquela cena.
A garota caminhou de um lado ao outro da praça, sentou num banco distante do de Célio e também ficou observando as pessoas.
Célio manteve o sorriso, como se tivesse esquecido de parar de rir da 'garota com casaco numa tarde quente', e fitou diretamente a garota. Queria que ela percebesse seu olhar; queria que ela olhasse para ele; queria saber mais daquela garota, pelo menos por que usava um casaco vermelho naquela tarde.
A garota continuava olhando para as pessoas; acompanhava algumas com o olhar, mas ainda não tinha olhado para o Célio - ele foi perdendo o contato com a praça, com as árvores, com o calor e com as pessoas, somente a garota lhe interessava, por isso mantinha sua atenção e o olhar nela.
Algumas pessoas passavam entre os dois, quando cortavam caminho pela praça; Célio esticava o pescoço para não perder nenhum momento. A garota sorria por causa de três cachorros, que brincavam perto dela. Célio não aguentou aquela situação, levantou do banco e se encaminhou na direção da garota. No mesmo instante ela levanta e corre na direção de um carro, abre a porta, entra e vai embora. Célio deu dois ou três passos mais rápidos, mas não conseguiu se aproximar o quanto desejava daquela 'garota de casaco vermelho numa tarde quente na praça'. Parou exatamente onde a garota embarcou no carro. Não sabia quem era, nunca tinha visto carro... olhou para o chão e descobriu um dos botões do casaco vermelho. Pegou o botão e sorriu, pois lembrou da estória da Cinderela, que perdeu o sapato num baile - aquela menina tinha perdido um botão, agora o que restava era procurar o casaco de onde aquele botão tinha caído e todo o mistério estaria resolvido.
Célio sorriu... era incrível que a vida lhe pregasse uma peça dessas... sentou no banco onde estava a garota, beijou o botão e sorriu mais uma vez.

2 comentários:

  1. Ana escapuliu deixando em Célio a certeza de que, dali pra frente, jamais perderia outra oportunidade!
    Célio nunca mais encontrou outro botão!

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